Residente HC
O radiologista musculoesquelético é acostumado às biópsias de coluna pela via pedicular, transversocostal e costovertebral, por sua maior segurança. No entanto, algumas lesões focais na coluna cervical podem não ser facilmente acessíveis por essa via, pois a morfologia fina dos pedículos limita acesso, sobretudo a lesões muito centrais e posteriores no corpo vertebral.
Esses casos podem precisar de vias alternativas, como a lateral ou a anterolateral. Essas vias têm maior proximidade com estruturas vasculares e do trato aerodigestiv, necessitando de considerações específicas. A nomenclatura de "lateral" e "anterolateral" não um consenso; consideramos aqui nomenclatura descrita previamente na literatura(1).
Rastrear a coluna total e bacia com RM ou TC para identificar lesões alternativas.
Avaliar se a via posterolateral/pedicular é possível e mais segura.
Utilizar injeção de contraste iodado no momento do planejamento do acesso, para melhor caracterização das estruturas vasculares.
Rotação da cabeça para o lado contralateral pode aumentar o espaço de acesso lateral.
Desvio do feixe vascular com digitopressão.
Considerar guiar biópsia de forma híbrida, com progressão inicial da agulha sob USG (permite boa caracterização das estruturas vasculares) e posterior por TC (no interior da lesão óssea)
Utilizar sistema coaxial para evitar múltiplas passagens em meio às estruturas vasculares.
Metástases são os tumores malignos mais comuns dos ossos. Quando nos deparamos com uma lesão agressiva na coluna cervical, existe uma chance considerável de que haja outras lesões ósseas em locais de acesso mais seguro ou mesmo lesões maiores com maiores chances de fragmentos diagnósticos.
Em nosso serviço, sempre que existe indicação de biópsia de uma lesão da coluna cervical, solicitamos primeiramente estudos de rastreio da coluna total e bacia (RM sempre que possível) para identificar lesões alternativas.
Avalie se a via posterolateral é factível e mais segura.
Lesões que ocupam todo o corpo vertebral ou se encontram próximas ao pedículo podem frequentemente ser acessadas por essa via. No entanto, os pedículos cervicais têm uma angulação craniocaudal maior do que no restante da coluna. Aquisições em blocos com reformatações, angulação do gantry e reposicionamento do pescoço do paciente são artifícios possíveis para ajudar a seguir o trajeto do pedículo. Pedículos muito finos também podem restringir essa via.
Via de acesso lateral (verde) apresenta trajeto anterior à artéria vertebral e posterior às artérias carótidas e veia jugular.
O acesso anterolateral (amarelo) apresenta trajeto entre as artérias carótidas e o trato aerodigestivo.
Nos níveis da glândula tireoide, o acesso anterolateral pode ser bem estreito, prefirindo-se a via lateral.
Posicione a cabeça em rotação no sentido contrário ao do acesso escolhido.
Veja o efeito da rotação da cabeça na janela de acesso.
Pode ser preferível escolher um corte em que o processo transverso apresente seu arco completo, servindo de referência anterior e proteção para a artéria vertebral.
Realize sempre que possível uma aquisição com injeção de meio de contraste iodado intravenoso para confirmar os trajetos vasculares. Atentar sobretudo para carótidas, jugulares e vertebrais, mas também para outros vasos menores no trajeto. O contraste permite também caracterização do tênue realce da mucosa faríngea/esofágica.
Veja o efeito da digitopressão no desvio dos vasos cervicais e aumento da janela de acesso.
Com o desvio digital, é possível acessar de forma segura a margem anterolateral do corpo vertebral com a ponta cortante da agulha. Em vermelho as artérias carótida comum e vertebral, em azul a veia jugular interna e em salmão o esôfago.
Ao se soltar a digitopressão, apenas a margem lisa da agulha é que mantém contato com a parede da veia jugular interna.
A angulação atingida por essa técnica permite alvos centrais e posteriores no corpo vertebral.
Tenha em mente que a via de acesso lateral descrita aqui é pensada para a coluna cervical subaxial. Lesões nos côndilos occipitais, massas laterais de C1 e corpo de C2 apresentam anatomia diferente e diferente relação com as estruturas vasculares adjacentes, necessitando de avaliação por estudos contrastados sobretudo para compreensão do trajeto das artérias vertebrais, que é mais variável nessas regiões. Acessos posteriores e posterolaterais são frequentemente possíveis. Por vezes, acessos menos comuns a serem considerados são as vias inframaxilar e transoral.